segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fernando Pessoa

Autopsicografia
 
Fernando Pessoa

 O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente. 
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm. 
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração

 Hoje comemora-se o 123o aniversário de Fernando Pessoa(1888-1935) um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, muitas vezes comparado a Luís de Camões.Poeta universal, publicou em vida somente o livro Mensagem. Pessoa criou três heteronômios,que são personalidades poéticas diferentes e que divergiam da sua poesia original. Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos são outros poetas dentro de Pessoa. Quero expressar a minha admiração pela sua obra e pelo seu universo.
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
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Álvaro de Campos: "Tabacaria" (excerto)




Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?
Fernando Pessoa


O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..
Fernando Pessoa

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