domingo, 20 de novembro de 2011

Oliveira Silveira


Oliveira Silveira

 

   Oliveira Silveira foi um poeta afro-gaúcho nascido em Rosário do Sul em 1941.Graduou-se em letras pela UFRGS e além de poeta, foi historiador e ativista negro, sendo um dos idealizadores do 20 de novembro como dia da Consciência Negra. Também foi um dos articuladores do Movimento negro Unificado.Com diversos livros e poemas publicados(sempre constante a temática do negro, da discriminação e da luta do negro pelo seu espaço), Oliveira Silveira lutou pela inclusão do negro em diversos espaços da sociedade. O poeta da Consciência Negra, como foi chamado, faleceu em 1º de janeiro de 2009.


   Esse poeta, grande articulista para eleger a data de hoje como dia da Consciência Negra, é sem dúvida um daqueles herois do povo negro, daqueles que lutaram pela nossa inclusão nesse país que ainda é preconceituoso( e que nega veementemente!). Considero-o juntamente com Abdias  Nascimento, Nei Lopes e muitos outros intelectuais negros grandes exemplos a serem seguidos na busca da identidade e da expressão.
Axé, meu poeta!




ENCONTREI MINHAS ORIGENS
Encontrei minhas origens
em velhos arquivos
....... livros
encontrei
em malditos objetos
troncos e grilhetas
encontrei minhas origens
no leste
no mar em imundos tumbeiros
encontrei
em doces palavras
...... cantos
em furiosos tambores
....... ritos
encontrei minhas origens
na cor de minha pele
nos lanhos de minha alma
em mim
em minha gente escura
em meus heróis altivos
encontrei
encontrei-as enfim
me encontrei

Oliveira Silveira
Roteiro dos Tantãs






Treze de Maio
Treze de maio traição,
liberdade sem asas
e fome sem pão

Liberdade de asas quebradas
como
........ este verso.
Liberdade asa sem corpo:
sufoca no ar,
se afoga no mar.
Treze de maio – já dia 14
o Y da encruzilhada:
seguir
banzar
voltar?
Treze de maio – já dia 14
a resposta gritante:
pedir
servir
calar.
Os brancos não fizeram mais
que meia obrigação
O que fomos de adubo
o que fomos de sola
o que fomos de burros cargueiros
o que fomos de resto
o que fomos de pasto
senzala porão e chiqueiro
nem com pergaminho
nem pena de ninho
nem cofre de couro
nem com lei de ouro.
O que fomos de seiva
.......................de base
..................... de Atlas
o que fomos de vida
........................e luz
chama negra em treva branca
.......................quem sabe só com isto:

que o que temos nós lutamos
para sobreviver
e também somos esta pátria
em nós ela está plantada
nela crispamos raízes
de enxerto mas sentimos
e mutuamente arraigamos
....quem sabe só com isto:
que ela é nossa também, sem favor,
e sem pedir respiramos seu ar
....a largos narizes livres
bebemos à vontade de suas fontes
... a grossas beiçadas fartas
tapamos-destapamos horizontes
....com a persiana graúda das pálpebras
escutamos seu baita coração
....com nosso ouvido musical
e com nossa mão gigante
batucamos no seu mapa
....quem sabe nem com isso
e então vamos rasgar
a máscara do treze
para arrancar a dívida real
com nossas próprias mãos.


Oliveira Silveira
Banzo - Saudade Negra

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